Thursday, October 08, 2009

Um mar de veneno

Quando se vive em um outro país fazemos as contas com perdas e ganhos. Uma coisa que se perde é a noção do que é ou não é notícia no país de origem. Apesar de toda a facilidade da Internet, os jornais que leio são italianos. Sim, todos os dias dou uma olhada em três jornais brasileiros, alguns sites de notícias e uma ou outra revista on-line, mas ler, de verdade, só jornais italianos.

Há alguns dias houve uma manifestação em Roma pela liberdade de informação. Pode parecer piada em um país onde se fala o que quiser de todo mundo. As hipotéticas relações extra-conjugais do primeiro-ministro e o envolvimento dele em escândalos financeiros julgados pela justiça; transcrição de gravações investigativas usadas como provas em processos judiciais em curso; relações de salários de servidores públicos, com nomes, cargos e valores: Enfim, tem de tudo. Inclusive muita informação que em muitos países são consideradas confidenciais, pela preservação da privacidade alheia. Muitas vezes trata-se de uma falsa transparência em busca do furo jornalístico. Noutras, cortina de fumaça para desviar a atenção do que realmente é notícia.

No mês de Setembro, através das declarações de um “colaborador da justiça” (nome dado aos que se “arrependem” e denunciam os crimes em que participaram em troca de atenuantes) a polícia italiano localizou um navio afundado na costa italiana, carregado de resíduos tóxicos. Não lembro de ter lido a notícia em nenhum site de jornal, revista ou site de notícias brasileiro a não ser no site da BBC.

Pelo que li até agora, é uma investigação que teria começado 14 anos atrás, com cenas de mortes misteriosas e envolvimento de poderosos. O jornal La Repubblica foi dos poucos que dedicou uma série de matérias, que podem ser lidas – em italiano – aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui

Antes que você se perca nos links, saiba que – sempre segundo informações de “colaboradores da justiça” – não se trata de um navio, mas de 30 (trinta!) e o número pode crescer. A prática era simples e enriqueceu muita gente. Uma empresa, com sede em um paraíso fiscal, teria oferecido o serviço de estocagem de resíduos tóxicos a diversos países. Alguns governos contrataram os serviços da empresa, outros recusaram e houve os que pagaram mais caro para permanecer no anonimato. Resíduos como escória atômica e lixo hospitalar, entre outros, eram carregados em navios cargueiros que depois teriam sido afundados no mar mediterrâneo e na costa do chifre da Africa. Verdadeiras bombas ecológicas capazes de contaminar não apenas as regiões onde se encontram, mas toda a cadeia alimentar.

Como localizar e recuperar todos os navios antes que uma tragédia aconteça? O que fazer com o material que for recuperado? Como evitar que esse tipo de ação possa se repetir? Espero que não levem outros 14 anos para responderem essas perguntas. E que os jornais passem a tratar de modo sério as notícias sérias.

11 comments:

Lunna said...

Esse tipo de coisa é que realmente incomoda... O silêncio de alguns meios de comunicação que preferem ficar noticiando a copa não sei de onde e as olimpiadas não sei quando...
Enquanto isso as verdadeiras notícias passam longe.
Eu entendo vc Allan, também estou desatualizada sobre as coisas que acontecem por aí, mas também não ando muito atualizada por aqui não. Chega uma hora que cansa, esgota. É tanto lixo que ou vc dá descarga logo ou vira "m..." mesmo. Perdo-me... rs
Beijos

Lunna said...

Ah! Sem esquecer de dizer que provavelmente vão levar bem mais que 14 anos para pensarem em fazer alguma coisa... E muitos outros 14 para realmente fazerem alguma coisa. Eu heim...

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ said...

Allan, é verdade, eu nao consigo acompanhar via internet as coisas que estao acontecendo no Brasil, por quê? Porque sinceramente nao dá. Eu reclamo muitas das vezes que os jornais em TV alemaes sao péssimos, nao falam muita coisa dos mundos ai fora, para isso tenho que assistir o jornal em um canal especial; ler jornal eu nao leio, nao dá com criancas pequenas e deveres de casa, mais o meu trabalho mesmo que de casa, pois trabalho como ajudante na preparacao de imposto de renda para algumas firmas, e o tempo que me sobra, ai sem dúvida alguma é para o blog e familia e amigos onlines, rs.
Mas por incrível que pareca, essa notícias dos navios "fantasmas" passou aqui.

Bom fim de semana e já está anotado, rs.

maray said...

essa notícia nao chegou, evidentemente, no Brasil. Mas o que chegou há uns meses e agora, com essa notícia começa a me dar o que pensar, é um navio com lixo hospitalar ingles que aportou em Santos. será que nao houve uma erro de endereço ou alguem esqueceu de afundar o que devia ser afundado? estranho, muito estranho...

Gi, Dentro da Bota said...

Realmente a lista é longo dos problemas que encontramos deste lado....
fico muito preocupada......

Gi..

Claudio Costa said...

A "grande" imprensa nos inunda com desimportâncias e divertimentos, omitem que "o rei está nu" e nos culpabilizam por tudo ou nos alienam nomeando os culpados como "eles", o outro, o governo...
E a propaganda enganosa (qual não é? tenta nos vender ilusões.

Unknown said...

Eu ainda leio muita notícia sobre o Brasil. Raramente leio sobre Alemanha. Não sei ler alemão, que vergonha né?!!! Boa semana!!!

gugala said...

Não tinha nem idéia disso. Como é que pode?
abç

Cybele Meyer said...

Olá,
Estou te convidando para participar do videochat que acontecerá amanhã às 15h e abordará o tema “Consumo consciente para o universo infantil” . O conteúdo do chat servirá de apoio para a Blogagem Coletiva que acontecerá do dia 25 a 31 de outubro.
Vamos conscientizar nossas crianças sobre a importância da organização financeira e do consumo consciente.
Espero por você!

Cybele Meyer said...

Me desculpe, esqueci de deixar o link http://migre.me/5I5N
bjs

Segunda impressão said...

Aqui os jornais não noticiam mais, é um jogo de conveniências. Eram as notícias do Sarney que foram abafadas pelo pré-sal, que foram sucumbidas pelas olimpíadas... E o que realmente importa se inventa, se aumenta, se encobre.
Realmente não ouvi falar sobre esse assunto do navio não.