Thursday, January 17, 2008

Quitanda

Dependendo da idade do leitor desta carta, o título lhe soará estranho: “Diachoé quitanda?” Mas a maioria ainda lembra de quando ia-se à quitanda comprar frutas, verduras e até ovos, que o açougue também vendia. “Diachoé açougue?”
No Brasil, a maioria das quitandas simplesmente desapareceu, assim como está acontecendo com os açougues. O ritmo da vida moderna impede desperdiçar tempo indo a açougues, quitandas e padarias e a facilidade de um supermercado sempre perto simplifica as compras e o estacionamento. As cidades brasileiras crescem rápido demais, expulsando pequenos agricultores e granjeiros. Muitas vezes o próprio quitandeiro possuía um sítio onde cultivava parte das hortaliças comercializadas, mas o transporte da zona rural ao centro das cidades se alonga e começa a influir nos preços. Vende-se o sítio para um novo loteamento, fecha-se a quitanda e a tradição vai morrendo.
Na Itália as quitandas ainda resistem. Os supermercados adquirem enormes quantidades dos grandes produtores e oferecem a preços menores, frutas e verduras com melhor apresentação, além de um monte de bugigangas que normalmente o consumidor não compraria, mas a compra por impulso é uma das estratégias de marketing do ramo. E funciona. Fruta e verdura nas quitandas italianas costumam ser mais caras que nos supermercados, mas normalmente são de produtores locais, que trabalham a terra de modo artesanal. A aparência não é a mesma que a dos produtos nos supermercados, mas o sabor justifica a diferença.
Além disso, os quitandeiros italianos contribuem para reduzir a poluição causada pelo transporte de longa distância, evitam o uso indiscriminado de pesticidas e ainda produzem menos lixo orgânico, usado como composto para baratear a produção. Os primeiros clientes dos quitandeiros são os próprios parentes, mas todos os moradores que possuem a sorte de haver uma quitanda nas proximidades prefere pagar mais caro e evitar a fila do supermercado. Isso acontece por que frutas e verduras realmente fazem parte da dieta cotidiana italiana.
Os supermercados oferecem mandioca, limão, manga e mamão do Brasil, couve de Bruxelas, limões espanhóis, abacaxis de Gana, pimentões holandeses que mais parecem produzidos em série – o mesmo tom de laranja, vermelho, verde ou amarelo, o mesmo cabinho torcido exatamente igual e a mesma falta de aroma – e morangos franceses. Mas as quitandas oferecem os pimentões de Cuneo, diferentes e saborosos, e as mais frescas uvas colhidas na tarde anterior na colina próxima à cidade. A festa de cores e perfumes em uma quitanda italiana é uma festa para os sentidos.
Se você mora em uma daquelas cidades do futuro, onde o mar de prédios impede a visão do horizonte, nãomuito a fazer. Mas se, ao contrário, você tem a sorte de morar em uma cidade pequena ou no campo, cultive uma horta, se houver espaço. Convença seus amigos a fazerem o mesmo e, quem sabe, abrirem uma quitanda comunitária. Caso contrário, preferência às quitandas – se ainda houver alguma – ou aos tradicionais “verdurões”, que também se utilizam das grandes centrais de abastecimento, mas que muitas vezes adquirem a produção dos agricultores locais. Mesmo que a sua dieta seja pobre de vegetais, você vai se sentir mais participante, vai contribuir para a manutenção dos pequenos agricultores e ajudará a reduzir os altos índices de poluição. Certamente sua consciência ecológica vai ficar mais leve, seu verdureiro mais feliz, o ar mais perfumado, a mesa mais colorida e eu terei feito a minha parte, convencendo você a readquirir hábitos mais saudáveis. E se você for o dono do supermercado, azeite.
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10 comments:

  1. Anonymous11:21 AM

    Você tem razão: o sabor é muito melhor! Experimentei tomates frescos, da horta da Aninha (o meu jeito de ser) e realmente é excepcional. Aqui no Rio temos as feiras livres. Não sei o caminho das frutas e verduras até chegar a elas. Quitandeiros não vejo há tempos. Tem razão: se cada um que tiver um quintal plantasse uma horta , veria com alegria a resposta da terra.
    Obrigada pela presença na inauguração da nova casa!
    abraço, garoto
    http://drang.org

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  2. To com voce e nao abro. Fruta, legume e verdura aqui em casa so do quitandeiro da esquina. Nao que eu seja das primeiras a pegar a coisa mais fresca - prefiro trabalhar ou dormir er er er - mas mesmo no meio da tarde encontro sabores e odores irresistiveis. Meu verdureiro ja conhece meus gostos e até me separa "guloseimas prediletas" e "manias irreparaveis". E' verdade: alèm de ecologico, é também um gesto mais humano comprar no verdureiro. Ali voce é gente. E ele também.

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  3. Quando morei na Itália a dona da quitanda perto da minha casa nao deixava eu escolher as frutas!! Isso me deixava muito brava e como ela era mal-humorada sempre nao tinha coragem de pedir pra escolher minhas frutas...

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  4. Anonymous4:27 PM

    Olá.
    Já acompanho seu blog há algum tempo mas nunca tinha comentado.
    Aqui no meu bairro, em São Paulo, ainda temos açougues e quitandas. A dona da quitanda conhece os fregueses e sempre indica o que tem de mais fresquinho e o que está melhor. Podemos escolher as frutas e as verduras também.
    Assim é mais gostoso ...

    Elvira

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  5. Anonymous6:09 PM

    Eu comprava em supermercado, uma vez que feiras em são paulo estão acabando. Até descobrir o quitandeiro da esquina. No bairro em que moro, também moram montes de nisseis e sanseis, e alguns japoneses de "verdade". Porisso ainda temos quitandas, todas geridas por eles. Ele sabe do que gosto, traz o que peço e ainda escolhe pra mim, que sou uma negação nisso. Me trata pelo nome e me dá bom dia! Já imaginou o Abílio Diniz fazendo isso?? :)

    maray
    www.gardenal.org/checaribe

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  6. Anonymous6:13 PM

    eu compro carne no açougue aqui perto de casa, mas verduras, legumes e frutas só mesmo no supermercado do abílio diniz. infelizmente. de vez em quando, dou sorte e trago frutas e legumes com algum sabor. ontem comprei uma melancia com gosto de nada. :-(

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  7. Aqui perto da nossa casa tem uma quitanda e há 8 anos desde que chegamos para esta cidade só compramos lá. Já somos conhecidos de lá e eles vêm da Macedônia. As macas têm sabor como as do Brasil. Cada legume comprado lá faz mesmo a diferenca no sabor. Eles também têm um pequeno acougue dentro da quitanda o que facilita muita coisa.

    Bom fim de semana prá vocês

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  8. Tem razão. Uma das melhores coisas de estar na França é fazer, todo dia, a fila do padeiro, do açougueiro, do quitandeiro e da loja de vinhos (droga, não posso dizer vinhateiro!). O supermercado, e tem um na rua, fica só pro detergente!

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  9. Belorizonte também tem suas quitandas, mesmo em bairros mais centrais, como o meu. Há, também, uns proprietários de sítios que trazem sua produção e a vendem dentro do próprio automóvel (utilitários): estacionam em determinada esquina (sempre nos mesmos dias e horários da semana), abrem a tampa trazeira e expõem o que produzem. Há queijos, tomates, frutas, doces caseiros, cachaça (!), etc; tudo de ótima qualidade, quase sempre orgânico, preço razoável. E o atendimento é personalizado!

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  10. Allan,
    Muito obrigada por sua explicação sobre o Amare e Adorare, era isso mesmo o que eu queria, não confundiu não, muito pelo contrário.
    Olha, pela primeira vez na vida tenho um espaço com as plantinhas, sobretudo manjericão, algumas pimentas...ervas de um modo geral. O mérito não é meu, mas do meu marido, eu só aproveito.
    Abraços
    Leila

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