Num dos primeiros contatos que tive com programas de qualidade, no século passado, o professor explicava as diferenças entre as três filosofias dominantes. A visão japonesa é mais holística, preocupada com as pessoas envolvidas no processo; a americana está mais voltada para os resultados, capaz de refazer tudo para atingir o objetivo esperado; a europeia é mais preocupada com a normatização e procedimentos. É mais ou menos assim:
A fábrica de bolinhas de pingue-pongue estava perdendo mercado. O consumidor se lamentava da baixa qualidade do produto e preferia a concorrência. Na filial japonesa os operários formaram grupos de trabalho que rodavam todas as áreas da fábrica, nos horários de folga, estudando as possíveis falhas. Na filial americana um operário sugeriu ao gerente que jogassem o manual de produção fora, descobrissem o método certo de fabricação e só depois chamariam algum engenheiro para reescrever o manual. Na filial europeia os operários balançavam os ombros e diziam estar seguindo o manual à risca, que o importante era não se atrasar, não discutir as ordens absurdas do chefe e receber o salário no final do mês; que algum gênio com um super salário se preocupasse em modificar o que fosse necessário. E o consumidor que vá jogar basquete.
Este é, talvez, o maior susto de um estrangeiro na Itália. Aqui o que conta são as aparências. É um sentimento desconhecido para quem está habituado a dar o melhor de si. Aliás, colocar as próprias qualidades à disposição da empresa pode ser prejudicial, pois o medo de mudanças do status quo irá transformá-lo numa ameaça. Adequar-se, nesses casos, parece algo absurdo. Sei de um chefe competente que perdeu o emprego por ter um bom relacionamento com os subordinados, o que, segundo a direção da empresa, demonstrava incapacidade de comandar.
O melhor modo de resolver um problema é ignorar a sua existência. A aids, por exemplo, é solenemente ignorada. Não existem campanhas, não existem informações ou estatísticas na grande mídia. Uma vez por ano, no dia internacional do combate à aids, fala-se dos esforços em debelar a doença na Africa e no terceiro mundo. E fim. Se você quiser alguma informação com um mínimo de profundidade, terá que vasculhar os sites do governo.
O bom cidadão deve fazer a sua parte sem perguntas, não contestar nem protestar além do permitido. E respeitar toda e qualquer autoridade. Mesmo que essa autoridade seja a porteira do prédio que age como xerife. Afinal, o fim do mês está próximo e você não vai querer ficar sem o seu salário, vai?
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É engracado as coisas ai serem assimm, pra gente é estranho e torto, mas no fim as coisas funcionam, de um jeito ou de outro...
ReplyDeleteNao imaginava q a Aids ai fosse tacitamente ignorada. Será por causa da igreja?
na verdade eu passei para dizer que eu acho muito que você devia sim passar lá na livraria da vila dia 5. sim, sim!
ReplyDeleteAllan, me explica como as empresas italianas ainda não faliram? Essa do chefe competente que tinha bom relacionamento com os subordinados e que foi demitido me deixou pasma.
ReplyDeleteJá sei, vc foi congelado na antiga União Soviética ou na Alemanha Oriental e foi descongelado para fazer este post? Pois é inacreditável que isso aconteça na Itália, num mundo cada vez mais competitivo e exigente.
ReplyDeletegd ab
Allan,fiquei um pouco bestificada porque eu não poderia imaginar que uma situação do tipo acontecesse na Itália, um dos berços da história da civilização. Enfim...
ReplyDeleteCom relação ao programa de qualidade, quando trabalhava levei uma chamada dos meus superiores porque era considerada manternal demais com os meus funcionários e estagiários. Eu os defendia com unhas e dentes, chorava com eles quando me contavam suas inquietações e tudo mais. Só que eu só faltava arrancar o couro. Era exigente demais e não deixava nada barato. Nunca houve uma vez que eu pedisse alguma coisa fora de suas tarefas que não fosse atendida. Não sei se agi certo de acordo com os livros sobre o assunto, mas comigo foi perfeito.
Beijocas
Putz! A Italia setentrional è assim tambèm!? Pensei que tivesse essa impressao sò porque cresci em uma grande cidade como Sao Paulo e hoje vivo numa cidadezinha perdida aqui no sul, Forza Polentoni!
ReplyDeleteMas que coisa absurda esconder dados sobre a Aids!
ReplyDeleteE essa subserviência é algo totalmente novo para mim... Realmente não espera isso.
Beijos
O mundo se emudeceu, e deve seguir mudo, por sua própria subsistência.
ReplyDeleteQuanto ao Dante, leio-o. A minha espera de um Baudelaire, é quase equivalente à espera de um Dante.
Caso queira discutir o que é arte, envie-me um e-mail. Arte, suponho, é aquilo que vai às raízes do ser humano intrínseco ao estético que só o deve corroborar.
Oi Allan, obrigada por sua visita e volte sempre q quizer lá no meu aconchego.
ReplyDeleteOlha, o Júlio César está engando qto à Alemanha. É fato q eles nao sao tao abertos p coisas novas, mas eles a experimentam p terem o prazer de dizer q foram os primeiros a fazê-lo, independente se o resultado será positivo ou negativo. Qto a relacao chefe e empregado tb muito boa, pois eles saem p uma cervejinha gelada, p comerem alguma coisa e muitas dessas saídas a gente acaba ficando tao amigo q eles passam a fazer parte dos nossos churrascos. Sei disso, porque somos autônomos e prestamos servicos p muitas firmas e sempre é assim. Os alemaes do sul sao mais fechados, mas nao extremosos como a Itália.
A Tv daqui faz campanha exclarecendo a Aids e Câncer de Mama, numa boa. Agora, me surpreendi q a Itália ainda vive uma ditadura dessas. E Viva a Alemanha.
Grande abraco Georgia
chose de lock!!
ReplyDeleteAbraços
Leila
Essa constatação sobre a aids na Europa me surpreendeu, Allan. Inacreditável.
ReplyDeleteAllan, infelizmente, este tipo de mentalidade também é dominante nas corporações brasileiras. Um nojo! Abração.
ReplyDeleteSou apenas mais uma que vem se juntar ao coro dos surpresos com esse comportamento italiano (tanto em relação à AIDS quanto ao comportamento nas empresas).
ReplyDeleteE a gente que acha que no 1º mundo é tudo perfeitinho, não sabe o qu e tem por trás...
Pois é Allan concordo com vc nessa descrção do chefão italiano. E mais essas idéias e atitudes estão nas entranhas deles.
ReplyDeleteEu trabalho na empresa de um italiano aqui em Salvador-Bahia. E posso garantir é verdade !!! Eles não suportam que os funcionários sejam amigos entre si, se um fucionário fala alguma coisa para outro funcionário perto deles eles pensam logo que estão falando mal deles e mais, se esse chefe é um pouco mais paciênte e educado com algum funcionário ... é simplesmente por que ele quer ter um espião (no baianês baba- ovo) inserido no meio dos funcionário.
Muitos italianos podem até ser chefes mais nunca lideres... isso é evoluir demais para uma mentalidade tão "tacanha" (acho que isso também é baianês).
Valeu Allan
sou sua fã... leio sempre seu blog.
Bom 2007 para vc e sua família.
Ana