Sunday, October 24, 2004

Mulher de Um Homem Só

Li, nessa sexta-feira, o romance “Mulher de Um Homem Só” do Alexandre Cruz Almeida. Depois de mais de 9.000 downloads, creio que qualquer coisa que eu diga será como chover no molhado. Provavelmente ele já recebeu a mesma opinião diversas vezes, mas, como fiel leitor, não podia não atender a solicitação de uma opinião pessoal, que ele faz no final do romance.

Piada velha: O sujeito entra na livraria, pega um livro e começa a folhear. Começa a ler, arregala os olhos, dá um respiro profundo e continua a leitura. Minutos depois, dá um respiro mais profundo ainda (ruidoso, mesmo!) e continua lendo. Pouco depois, caiu no chão roxinho da silva. Ambulância e médicos chegam e não há mais nada a fazer: morreu! Curiosos, os balconistas resolvem ler o livro para descobrir o que assustara tanto assim o cidadão. O voluntário repete a cena sob os olhos do médico, que o reanima quando ele desmaia. Ao acordar, explica: “O livro não tem ponto nem vírgula.”
Foi mais ou menos assim que eu li o romance: num fôlego só.

Pelo que pude notar, achei que o Alexandre fosse formado em Letras. (Não quiz entrar no blog para tirar a dúvida, mas depois de ler este e-mail, ele esclareceu ter feito História.) Técnica é o que não falta e isso demonstra o alto grau de estudo e uma revisão profissional. O romance é cheio de referências, o que amarra direitinho a história. O ritmo escolhido obriga à leitura da frase seguinte, do parágrafo seguinte, da página seguinte. Comecei a ler na hora do almoço e tive que ligar desmarcando um compromisso. E olha que não desmarco compromissos! Com certeza ele irá publicar não apenas esse, mas muitos outros romances.

Minha impressão: Personagens bem construídos, parecem-se com pessoas que conhecemos. Gostei mais da Júlia que da Carla. O tal do Murilo me pareceu dono de uma personalidade que se pode manipular. Ritmo (ou cadência?) muito forte, principalmente para quem acostumou-se – na adolescência – com o ritmo de Faulkner. Talvez pudesse ser mais soft, mas essa é uma decisão que ele deve considerar em função do público-alvo escolhido e, provavelmente, eu não faço parte do perfil desse público. A narrativa em primeira pessoa obriga a malabarismos linguísticos que o Alexandre domina muito bem. Romper dogmas pode enfrentar certa resistência no início, mas os pioneiros insistentes costumam vencer. Faço uma pequena ressalva pelo modo como ele escolheu terminar o romance. Fiquei com a impressão de que haveria uma continuação, me envolvi e imaginei uma cena que não aconteceu. Fiquei aguardando um desfecho que não se consumou. Inusitado. Inesperado.

Se você não quer saber detalhes, pare por aqui!
Durante toda a leitura acreditei que a Carla conversasse com amigas, num cabeleireiro ou outro lugar. A um certo ponto Carla conta que o controle do espólio de Júlia passa à Mariana, filha de Raquel, que é filha de Carla e Murilo. Neste ponto a própria Carla estaria morta (e Murilo, idem). Essa referência muda o ritmo dos acontecimentos, me faz achar que Carla narra do túmulo e se contrapõe ao suicídio de Júlia, que na realidade não aconteceu (“Pensam mesmo que Júlia se matou? A doidisgóia? Por favor! Foi é passar o ano na Europa, pra espairecer. Depois, voltou.”). Isso muda as ligações tão bem amarradas entre si e induz a novas perspectivas. Reiniciar o romance deixa de ser mera possibilidade, pois o autor nos oferece a possibilidade de questionar finais em que tudo se resolve, distanciando a maioria dos romances da realidade. O resultado depende da expecttiva que cada leitor criou. Do alto da minha opinião um tanto conservadora, não nego ter ficado um pouco confuso: Forma e conteúdo merecem a mesma atenção do autor? No fundo, a intenção não é penetrar nos personagens e relacionar emoções vividas por eles com as nossas? Não é viajar para dentro do ambiente criado pelo autor? Adquirir novos conceitos? Divertir-se? Se uma ou mais respostas a essas perguntas for “sim”, então leia!
Vale a pena!

Aproveite para baixar o romance gratuitamente aqui. Mas faça logo o download. O Alexandreestá procurando uma editora para publicar o romance (que é curto e certeiro!) e aí, acabou a mamata. Depois, mande a sua opinião a ele. E a mim.

Ciao.

7 comments:

Mineiras, Uai! said...

Allan, já havia lido o romance do Alexandre... Também fiquei meio indignada com o final. Não porque esperava que tudo se resolvesse no final ("e todos foram felizes para sempre"), nada disso, mas que realmente esperava um desfecho. Então acabou a história, Carla proibindo Júlia de ver sua filha, Júlia querendo se suicidar, Murilo tentando convencer Carla a voltar atrás com sua decisão, e aí? Em algumas linhas o autor nos revela que Júlia não só não havia se suicidado, mas que a neta da protagonista, se tornou curadora do espólio de Júlia, madrinah de sua mãe, e vendeu seu patrimônio para comprar imóveis, sem remorsos... Como a narrativa é extremamente psicológica, a gente se dispõe a pensar se o fato narrado aconteceu antes ou depois daquele outro... Mas que eu também li de um fôlego só, isso foi!
Abraços
Ana Letícia
http://mineirasuai.blogspot.com

Leila Silva said...

Allan,
Voce despertou minha curiosidade. Vou tentar o download e depois 'conversamos' mais sobre o livro.

Abracos e muito obrigada pela sua (sempre)tao amavel atencao.

http://cadernos-da-belgica.blogspot.com

Leila

ps: Por favor, deixe o endereco do seu blog quando deixar os comentarios.

Anonymous said...

Allan! Acredita que eu ja baixei o romance do Alexandre, mas nao teve como ler ainda? Sou um tremendo desleixado... Mas enfim, sobre a nossa viagem. Estivemos em Veneza neste domingo - e fiquei com muita vontade de voltar em breve! Infelizmente vamos ficar por Roma mesmo ate sexta, quando embarcamos de volta ao Brasil... Mas enfim. Esta marcado desde ja nosso encontro para breve. Nao resisti a Italia! Grande abraço!

André Marmota

Leila Silva said...

Allan,
Nao pude deixar de responder ao seu comentario no meu blog sobre literatura oriental...Eu tb adoro hai kais, embora conheca pouco, gosto principalmente de Basho, um livrinho que comprei em Lisboa.
Abracos
Leila

Anonymous said...

Caro allan:
de volta à casa, após uma viagem ao paraiso (Itatiaia) leio seu blog. Uau! quanta novidade! afinal, a pizza do jeito que se conhece foi inventada nos Eua, né? aquela grossa , pão, fria, que é italiana. Afinal dois: posto seis, são paulo, bahia.. cê morou no mundo todo?
Angela

meiroca said...

Alla,
fiz o download, estou terminando de ler a Espia de Bagadà, terminando vou ler este e depois te conto.
Abraços
Meire
PS Sei de um site com downloads gratis de titulos em portugues muito interessante..
se quiser....

Anonymous said...

Nao me identifiquei no post anteiror
"Allan
fiz o download, estou terminando de ler a Espia de Bagadà, terminando vou ler este e depois te conto.
Abraços
Meire
PS Sei de um site com downloads gratis de titulos em portugues muito interessante..
se quiser...."
http://pensamentosepoesias.blog.tiscali.it/