Saturday, January 08, 2022

Mazzola - uma história de futebol

Na parede do vestiário do Palmeiras havia uma foto do “Grande Torino”, time italiano de grandes estrelas que colecionava títulos e troféus. O treinador palmeirense, Claudio Cardoso, notou a semelhança do jovem José com Valentino Mazzola, camisa 10 do Torino e da seleção italiana e o apelido ficou. José não era mais José, mas Mazzola.




Valentino Mazzola

Valentino Mazzola foi vítima de um acidente aéreo, em 1949, em que morreu todo o time, naquela que ficou conhecida como Tragédia Superga. O mau tempo, a escassa visibilidade – de apenas 40 metros – e uma provável rajada de vento, levaram o avião que retornava de um jogo amistoso em Lisboa a chocar-se contra a catedral Superga, no topo do morro homônimo, já próximo ao pouso. Comoção na Itália e em toda a Europa. A federação Italiana de Futebol decretou o Torino como campeão italiano, 4 rodadas antes do final, mesmo faltando a certeza matemática do título. Os 4 jogos restantes foram disputados pela equipe júnior do Torino. Em sinal de respeito, os adversários também convocaram os juvenis e o Torino sagrou-se campeão com 60 pontos, 5 à frente da Inter, segunda colocada e a 10 do Milan, o terceiro.

O valoroso capitão do Torino e da Azzurra não deixou apenas torcedores órfãos. Os dois filhos, Sandro e Ferruccio, com 6 e 4 anos, precisaram aprender por conta própria o oficio do pai. Ferruccio, o caçula, rodou alguns times jogando no centro-campo até iniciar a carreira de treinador. Sandro (Alessandro) jogou apenas em dois clubes: no Torino, onde iniciou a carreira e na Inter (Internazionale di Milano). Assim como o pai, Sandro jogava seja como meio-campista que como atacante. Os irmãos jogaram juntos na Inter e na seleção italiana, honrando o sobrenome. Ferrucio faleceu em 2015. Sandro é, talvez, o comentarista esportivo mais respeitado na Itália.

E o nosso Mazzola, o José?

Mazzola - da seleção brasileira campeã de 1958

Bem, o Mazzola brasileiro tornou-se um atacante de todo respeito e, com pouco mais de 17 anos, estreou no time principal do Palmeiras, num amistoso contra o Catanduva, quando marcou dois gols (o mais jovem de toda a história do Verdão). Ao todo foram 85 gols em 114 jogos com a camisa verde, numa média de 0,74 gol por partida. Convocado para a seleção, participou da Copa Roca e dos amistosos em vista do Mundial da Suécia. Em especial, na excursão italiana, quando jogaram contra Fiorentina e Inter. Foi nessa ocasião que os dirigentes do Milan se maravilharam pelo jovem José e decidiram pela sua contratação. Antes, porém, Mazzola jogaria o mundial de 1958, sendo o segundo jogador mais jovem do time, com 20 anos. Foram 4 gols em 8 jogos com a camisa canarinho, entre amistosos, Copa Roca e Copa do Mundo.

Partiu para a Itália logo após sagrar-se campeão em 58. Em sete estações com o Milan, venceu dois campeonatos italianos e uma Champions League, a primeira de um time italiano, diga-se de passagem. Ainda jogou no Napoli, Juventus (vencendo outros dois campeonatos), na Itália e no Mendrisiostar e no Chiasso, da Suíça, antes de pendurar as chuteiras, aos 42 anos e tornar-se comentarista esportivo mais simpático da Itália. Ah, claro, jogou também pela seleção italiana, tendo participado do Mundial de 1962. Como na época a Seleção Brasileira atuava somente com jogadores que jogavam no Brasil, José não foi mais convocado. Sendo descendente de italianos, teve a sua cidadania italiana facilmente reconhecida, o que o permitiu defender a Azzurra. Infelizmente a culpa da eliminação da Itália na Copa de 62 caiu sobre o nosso Mazzola e ele nunca mais seria convocado. José detém o quarto lugar entre os artilheiros da Série A, o campeonato principal da Itália, com 216 gols, e ainda marcou 5 gols em 6 jogos com a camisa da Itália.

Não se assuste se algum brasileiro vivendo na Itália nutrir antipatia por Sandro Mazzola. Muitos acreditam ser ele o nosso Mazzola e ficam com raiva quando Sandro se refere à  seleção italiana como “i nostri ragazzi” (os nossos garotos). Como norma, jogadores italianos devem ostentar o sobrenome na camisa do time e não o apelido, como é comum no Brasil. O nosso Mazzola ficou conhecido, respeitado, amado e idolatrado em terras italianas como Altafini. José João Altafini é o nome da fera. Mazzola é o outro, o italiano.

Sandro Mazzola

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