Pelos becos e caminhos abstrusos percorridos pela minha memória as coisas se perdem. Muitas vezes não consigo descobrir o percurso labiríntico de volta para encontrar o que procuro. Sempre fui muito distraído e o tempo acentua certas características. Nomes, cidades, datas e cronologia são menos importantes que as histórias contadas. Memória é uma questão de importância: lembramos daquilo que captura a nossa atenção.
Semana passada decidi procurar outra receita de biscoito de polvilho (biscoito de vento, biscoito de cuspe). Uma que fosse mais leve e que se esfarelasse como aqueles que comprava em Copacabana, enchendo as toalhas vizinhas de migalhas. O problema é que entre um e-mail e uma notícia lida, acabo esquecendo o motivo que me levou a ligar o pc. O biscoito acabou indo parar em Maputo para me lembrar de procurar um outro contato comercial em Moçambique e Angola. A língua oficial é a mesma, mas tenho encontrado dificuldade em localizar quem possa fazer uma simples pesquisa comercial. Algo como abrir as Páginas Amarelas e passar-me alguns endereços e telefones. Internet? Ainda não entendi como funciona por lá. Os costumes também são outros e isso me fascina. Será difícil esquecer as diferenças que começo a descobrir.
Crio uma frase e repito algumas vezes: biscoito espanhol em Maputo. Minhas filhas me observam desconfiadas, os amigos italianos sugerem que use o celular para registrar como compromisso, mas quem disse que vou lembrar de verificar o celular? Mas isso foi semana passada, não? Os contatos africanos são vacilantes, ainda não encontrei uma receita que me convença e começo a duvidar que conseguirei lembrar a que se referia o “espanhol” da frase antes de terminar essa carta. Devia ser algo sem importância que se perdeu em algum beco escuro da memória. Melhor deixar por lá.
Na minha agenda tem uma pequena lista de assuntos para tratar com o médico. Nada mais sério que uma dor muscular ou uma nova consulta ao oculista. Além da memória. São dois meses que transfiro a relação de uma segunda-feira a outra e não lembro de telefonar para marcar a consulta.
Ultimamente tenho me concentrado no trabalho, em ampliar as perspectivas econômicas e a descobrir novas oportunidades. Todo o resto acaba se misturando a nomes, cidades, datas e cronologia. A cor da caneta, o tom da frase ou um olhar são detalhes que não esqueço em algumas situações. De ontem ou de vinte anos atrás. Que diacho teria me interessado tanto na Espanha? E era Espanha? Alguém aí sabe como acionar a memória quando eu preciso?
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As memórias começam a se transformar em vagas lembranças, ah, ah. Talvez uma evolução.
ReplyDeleteQuando quiser alguma informação das páginas douradas de Angola, é só dizer. E essa sensação de esquecimento, eu bem conheço... é igual quando a gente abre a geladeira... pra que mesmo?
ReplyDeleteteve dias que buscava meus oculos, fiquei maluca e nao encontrava, e qdo abri a geladeira para comer algo, ai estavam meus oculos!!!no dia seguinte...
ReplyDeleteacontece..
beijos
a sua memória não sei, mas a minha, quando procuro algo e esqueço, deixo estar. No começo depois de uns 20 minutos a coisa vinha. Agora chega a demorar até mais de um dia. Já teve ocasião de acordar berrando um nome que tinha me faltado no dia anterior ...Demora mas volta. E o dia em que não voltar mais, talvez eu nem saiba o que é esquecimento ou memória...
ReplyDeleteO tempo nem sempre é cruel, como dizem. As vezes é sábio.
Allan, estamos todos sofrendo do mesmo mal, hahhahahaha!!!
ReplyDeleteFaz parte do show da vida, rs.
Abracos
Você consegue transformar um limão azedo numa saborosa limonada.
ReplyDeleteManoel Carlos
Dizem que fazer exercícios que estimulem a mente ajuda a melhorar a memória, como relogios sem números nos mostradores, fazer conta sem usar a calculadora, etc.
ReplyDeleteEu sigo anotando tudo na agenda do celular.E mantenho uma agenda tradicional em casa, para guardar coisas importantes que não correm o risco de se perder se o celular pifar ou for roubado.
Perdemos as coisas , esquecemos outras; mas não perdemos a sanidade.
Gostei das mudanças no layout.
abraço, garoto
Allan, acontece comigo de não lembrar o lugar ou circunstância quando sinto o cheiro de algo e fico me perguntando, onde foi que senti aquele perfume. Muitas vezes o cheiro é tão presente que já perguntei para quem estava do meu lado, se conhecia o cheiro e a pessoa dizer que não está sentindo o cheiro de nada! Daí fica a dúvida, se o nosso cérebro sente saudades, porque você não está tentando se lembrar de nada quando sente o cheiro - Pois certo que massageamos o nosso cérebro quando sentimos prazer e quando este é muito forte, ele chega a se contrair e um arrepio nos percorre a espinha - os mais antigos diziam que a morte teria passado por perto ou seria a alma de alguém? Alguém que se perdeu etereamente na nossa memória.
ReplyDelete*Se você quiser, eu tenho uma receita de biscoito de polvilho.
Beijus,