Sunday, November 02, 2008

(Con)Fuso horário

De algum lugar da China (eu acho), recebo o seguinte e-mail: “…cheguei de Lhasa ontem à noite, cansado à beça, mas em forma. Estou reaprendendo a respirar sem tubo de oxigênio pendurado no nariz, como estive obrigado a fazer durante todo o tempo passado no quarto do hotel em Lhasa.

Aliviava, mas não resolvia. No resto do dia, eu tinha de me contentar com o oxigênio da atmosfera rarefeita e seca. Oxigênio o qual, além de pouco, vem misturado com a poluição do tráfego (sim, Lhasa está altamente motorizada). Mas o maior sufoco (literal) é o do interior dos templos, superlotados, sem janelas nem sistema de exaustão, o pouco oxigênio consumido por incontáveis lamparinas alimentadas a manteiga de iaque derretida. Acrescentem a isso a fumaça de incenso e tentem imaginar a nauseada aflição de meu nariz, dos pulmões, e do coração que tentava compensar com aceleração o baixo suprimento de oxigênio chegado ao cérebro e outros órgãos.”

O segundo e-mail é enviado já do Brasil: “Se hoje não for amanhã nem ontem, acho que cheguei da China esta manhã. Vour dormir agora, a 1h30 da tarde (ou já é noite?) e dou mais notícia amanhã, digo, ontem (ou ontem já é hoje?) Credo!”

Com o início do horário de verão no Brasil, o fuso horário entre Itália e Brasil se reduz para quatro horas. Com o fim do horário de verão italiano, a diferença caiu para três horas. Só em Março voltará a ser de cinco horas, a enorme diferença que nos deixa mais distante de parentes e amigos: quando ligamos a pessoa está trabalhando (ou dormindo); no horário em que as pessoas chegam em casa e podem telefonar com calma, já dormimos nós. Aniversários, datas festivas ou simplesmente vontade de falar com alguém que conhecemos desde sempre, correm o risco de passar em branco. A redução do fuso horário nos aproxima, mas não resolve outras diferenças.

O pior é lembrar que enquanto entramos no período frio do ano, o horário de verão no Brasil está apenas começando. “E. T. phone home.” A neblina não combina com a lembrança que tenho de Salvador nesse período e esse clima criado pela iminente eleição nos Estados Unidos, com todo mundo acreditando que, com Obama ou McCain, todos os problemas se resolverão, que a crise financeira se dissipará, que as guerras terão fim, que o clima voltará a ser como há cem anos, que todos viverão mais e melhor e que a torrada nunca mais cairá com o lado da manteiga para baixo. Essa sensação falsa que mantém o mundo suspenso e que o manterá pelos primeiros meses da nova administração, como sempre acontece. Esse ar viciado que cria expectativas e contribui para um estado de espírito melancólico e cansado.

Esperar pela Primavera (uma outra meia estação) com a certeza de que jamais irei a Hollywood ou a Lhasa. Não por vontade própria.

E eu nem sei se tem meia estação por lá, só sei que são duas localidades muito próximas:

6 comments:

  1. Anonymous7:07 PM

    Então. Ainda substimam a nossa inteligencia. Já fizeram rodovias acompanhando as fibras ópticas nos oceanos? Ah, tá! Esqueci que americano não conhece nada de geografia. Tudo é ali mesmo nos EUA. Beijus

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  2. Rapaz, se quando eu vou à Brasília eu sofro para caramba com o clima de lá, imagina em lugar tão elevado. Acho que não agüentaria.
    Beijocas

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  3. Anonymous2:09 AM

    Creio que sou beduino, pois gosto de clima seco, frio ou quente, desde que seco. Atualmente, sou confuso, mesmo sem fuso.
    Manoel Carlos

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  4. Confusos mesmos esses horários!

    E obrigada pela lição de italiano - abaixo - estou seguindo direitinho.
    Abraço

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  5. Pois é: tempo e distância são fenômenos, coisas ou conceitos? Aqui é lá pra você. O outro lado da rua é o "lado de cá" pra quem está lá. Uns dizem que nem existe tempo, existe apenas "o passar do tempo". E neste meio tempo descubro, aqui em BH, lá no Mercado Central, que fica ali na Av. Augusto de Lima um licor de cachaça que se chama... o nome tá lá no PrasCabeças. E o post é "pro Allan". Verdade.

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  6. Anonymous2:30 PM

    Eu não tenho esse problema, já que não tenho esperanças nenhuma de conhecer outros países. Abraços.

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