Tenho o hábito de ler jornais. Sábado, então, nem se fala. Saio, tomo um café, fumo o meu charuto, compro os meus jornais e vou ler em casa. Pois foi num sábado, quando ainda não entendia perfeitamente o italiano, que passei em umas dez bancas de jornais antes de desistir. Em todas a cena se repetia. O proprietário abria os braços desconsolado, balançava negativamente a cabeça e proferia uma frase enigmática com uma palavra mais enigmática ainda: “sciopero” – principalmente quando a frase era pronunciada no mais perfeito e incompreensível dialeto piacentino. Não me conformava e partia a outra banca de jornal. Finalmente entendi que naquele sábado eu teria que ler outra coisa.
Na Itália a greve (sciopero, em italiano) tem um caráter puramente político. Tem data e hora para começar e acabar. Normalmente não dura mais que oito horas, mas é mais comum “uma tarde de greve”, sempre anunciada com muita antecedência. Aqui a greve é uma forma de expressão, de mostrar insatisfação de modo muito civilizado. Ou era, até esta segunda semana de dezembro. Os empregados das empresas de transportes de cargas – camionistas, mesmo – decidiram fazer uma semana de greve para pressionar o governo. Começou segunda-feira e, já na terça, o governo decretou o final da greve. O problema é que foi uma decisão unilateral e sem uma proposta às pretensões dos transportadores. O resultado é que a greve endureceu e nem mesmo os caminhões particulares e das próprias fábricas está podendo circular sem problemas.
A cena, nós, brasileiros experts em greves, conhecemos perfeitamente. Quem não se precaveu ficou sem combustível e corre o risco de ficar sem comida, pois os mercados estão se esvaziando rapidamente. Sabe aquela corrida aflita ao supermercado para comprar tudo o que couber na dispensa, com medo de uma guerra mundial?
Os caminhoneiros prometem manter o movimento até sexta. O país promete quebrar antes. O governo promete não ceder. Boa parte da população, apesar do imenso transtorno, começa a entender que a greve pode, também, ser um instrumento de pressão. Só acho maldade toda essa confusão no início de Dezembro: se fosse em Salvador, a essa hora eu estaria na praia. Na dúvida, vou correr até a banca e fazer um estoque de jornais e revistas, que café e charutos eu tenho.
Aqui a greve dos ferroviários já dura meses. Embora eles estejam trabalhando, mesmo assim eles param determinado dia e fazer a freve e quem sofre é quem tem que pegar o trem...
ReplyDeleteBom fim de semana
Eu ando lendo somente anúncio de supermercado que é pra economizar. E tem mais, leio somente os do ano passado que é pra não estressar com os preços de hoje. Ainda bem que vai faltar tudo, assim tenho boa desculpa.
ReplyDeleteAbraços
Allan, a greve é um direito de todo trabalhador, mas ainda assim tem que ter cuidado para não fazer a população sofrer. Acho muita sacanagem quando uma determinada classe trabalhadora tenta acabar com a tranquilidade das pessoas. Espero que tudo dê certo por aí.
ReplyDeleteBeijocas