Quando morava em Salvador me admirava ao observar a saída do Fonte Nova, o estádio da cidade. O clássico Ba-Vi (Bahia x Vitória) terminava sempre com uma gelada no boteco mais próximo, onde as camisas adversárias se misturavam em paz. O jogo havia acabado e ninguém se importava com a rivalidade fora do campo. Vá lá, vez ou outra tinha alguém mais alterado arrumando confusão, mas os outros torcedores olhavam de longe, censurando. Nem parecia o mesmo país das torcidas organizadas do Sul Maravilha que se espancavam e atacavam os ônibus das outras torcidas.
Certa vez escrevi sobre a operação de guerra que é a chegada de uma torcida organizada na cidade, com direito a vagão de trem e ônibus blindados e grades nas janelas. Aqui o futebol é a razão de vida de muita gente. Há poucos dias acabou virando, também, a razão de morte para alguns.
Parece que a diversão dos torcedores mais entusiasmados não é assistir a partida, mas a possibilidade de espancar outros torcedores e agentes de polícia impunemente. No início de Fevereiro o copo transbordou: mataram um policial com um pedaço de cano retirado de um banheiro. Cacos de pias e de vasos sanitários também foram usados como armas. Campeonato suspenso por uma semana; uma lei mais severa contra a violência nos estádios; estádios com as portas fechadas até que estejam com todos os equipamentos de segurança em ordem e um rapaz de dezessete anos na cadeia. Só deixaram de fora os jornais esportivos que alimentam a rixa.
Dias antes uma outra vítima fatal, mas daquela vez fora por uma briga entre dois times. As cenas de violência nos estádios se repetem semanalmente, de norte a sul do país. Uns dois ou três anos atrás jogaram um scooter de uma arquibancada lotada. Levar uma lambreta lá em cima não pode ter sido distração. Nem parece o mesmo país das torcidas pacificamente misturadas nos jogos de rugbi aplaudindo as belas jogadas, mesmo as do time adversário.
O garoto que matou o policial jogava rugbi. Ele não estava sozinho; o batalhão não estava lá só por causa dele, mas será ele, sozinho, quem pagará a conta desse tipo de divertimento besta, que é mais ou menos como incendiar índios e mendigos. Como os índios por aqui andam escassos…
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Off: recebeste meu mail?
ReplyDeletesabe aquela história do marido que bate na mulher, a mulher bate nas crianças, as crianças batem no cachorro e o cachorro...bom, o cachorro apanha feito cão? Acho às vezes que é isso: as pessoas levam no @#$@# e não sabem direcionar sua raiva. Matam-se entre si. E os governantes? Ah, esses vão bem, obrigado ...
ReplyDelete(off2): Afonso, eu também queroreceber um e-mail!!!)
ReplyDeleteAllan, há uma intolerância generalizada e uma violência banal e gratuita tão grandes solta por aí que dá medo. Muito medo...
Mas ninguem estimula o respeito nessa sociedade! Só se ve polemica, bate-boca, brigas, incitação ao odio, intolerância etc. E' tanta violencia verbal gratuita que acaba explodindo na física.
ReplyDeleteAbraços.
De um lado, a violência (uso da força) é imprescindível para a sobrevivência e, portanto, componente do instinto vital; por outro, a 'civilização' foi a saída que os humanos encontraram para tornar suportável o convívio. Inventou-se a 'linguagem', recurso simbólico para que possamos expressar nossos desejos e pulsões, sem que precisemos partir para a 'ignorância', o concreto, o puro ato. Infelizmente, nem todos conseguem ficar aí, na linguagem... O esporte de competição, deslocamento simbólico da "guerra pela sobrevivência", de repente, é subvertido pela "guerra-de-verdade". Aí, amigo, é morte na certa. Por isso, inventamos, também, as Leis, a Polícia, as Penas. Se algo não funciona, a vaca vai pro brejo.
ReplyDeleteo problema é que onde há violencia é pq as leis nao funcionam. Se funcionasse e o povo aprendesse a viver em sociedade... Mas isso esta parecendo historia de livros, conto, na real... vc sabe...
ReplyDeleteO problema da violência em estádios é a sensação de poder e impunidade que surge no meio da multidão. Pensando bem, não só nos estádios.
ReplyDeleteLamentável, vergonhoso...
PS - a revolta com a sunga é porque aí é inverno?
:-)
abraço
Não foi provocação, claro. Podes considerar um desabafo, afinal eu estava na situação de inverno em fevereiro até bem recentemente.
ReplyDeleteSou solidário a ti nesse tema.
abraço
Boa semana
ReplyDeleteGostaria de dizer que, para mim, gremista bom é gremista mor... Ah, sim. O quê? Contrabando de salames em aviões da FAB? Conheço pessoas que fornecem uns sensacionais. (E sem duplo sentido!)
ReplyDeleteEste comentário só e o Flavio entenderão...
Abraço.
Eu prefiro assistir aos jogos pela tv, com os pés pra cima e um pacote de pipocas.
ReplyDeleteO futebol na Itália se misturou muito com a política, grupos raciais e agora com as torcidas organizadas.
Vi na RAI que Kaká, Gattuso, Gilardino e Inzaghi cederam direitos de imagem para as Brigate Rossonera.
Não há interesse dos cartolas cancelarem os jogos por enquanto, então acho que a melhor saída é mudar a legislação em vigor para melhor punir os culpados e algumas mudanças administrativas nos clubes.
Parece que o futebol está deixando de ser esporte para enveredar por um caminho que os não 'politizados' não poderão participar.
Beijus
Allan, semana passada teve Flamengo e Vasco no Maracanã. O jogo foi transmitido pela TV e toda a vizinhança parecia assistir à partida. Se eu contar aqui o que foi dito em alto e bom som pelos vizinhos flamenguistas e vascaínos, capaz de você achar que estou exagerando. É um ódio tão grande entre as duas torcidas que ultrapassa o limite da boçalidade.
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