O italiano médio, essa figura providencialmente inventada para evitar generalizações, é simpático, desconfiado, gozador e falastrão. Auto-confiante e dogmático, ele acredita nas verdades absolutas. As suas verdades. Dono de uma certa ingenuidade frente à miséria no mundo, planeja as férias em países exóticos e vai às discotecas nos fins-de-semana. No Natal, recicla presentes recebidos sem o menor constrangimento.
Italiano adora regras. Quanto mais, melhor. Afinal, se não existissem tantas regras, não se criariam tantas exceções. E este parece ser um esporte nacional: transgredir regras. Aqui, tudo pode ser interpretado. Até mesmo chegar a conclusão que aquela regra não é adequada em determinada situação ou que não se aplica à pessoa. Ou seja: regras são regras, mas cada italiano acredita ser a exceção que as confirma.
Existe um modo italiano muito cortês de falar, usado pela maioria das pessoas quando tratam com um estranho. “O patrão taí?” é uma frase difícil de se ouvir por aqui. Um italiano DOC (da gema) vai dizer: “Por cortesia, me faça falar com o responsável”. Isso não significa que ele nunca o mandará à merda, mas que irá encontrar um modo elegante de fazer isso.
Parece que o ritmo Slow Food tomou conta do modus vivendi desse representante do povo italiano: ele prefere não assumir compromissos mais sérios que viver de forma proveitosa, observando o vai e vem sentado em uma mesa de bar com uma xícara de café, dividindo o mundo entre os “de esquerda” e os “de direita”. O jornal, por que não existe italiano sem jornal, é o que define a sua fé política. Puxe uma cadeira, peça um café e, com o jornal sobre a mesa, aprenda a observar o vai e vem. Está começando um daqueles espetáculos em que a plateia é o protagonista.
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Marzia abriu um contagiante e sincero sorriso, enquanto desembrulhava com cuidado o pacote que acabara de receber. A satisfação invadiu o ambiente quando ela percebeu que o conjunto de saída de praia e toalha era lindíssimo. Fingira não notar a etiqueta amarelada do Natal do ano anterior com o preço e agradeceu muito. Normalmente ela guardaria o presente com um bilhete lembrando quem a presenteara, mas, naquele caso, deixara tudo displicentemente sobre a poltrona: acabara de achar o que procurava para a amiga que iria conhecer as Ilhas Maldivas. Só não poderia esquecer de arranjar outra etiqueta discreta com um preço um pouco mais alto.
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Não tem como não simpatizar com o italiano médio. Quem resiste à puxar uma cadeira, pedir um café e, com o jornal sobre a mesa, observar a vida passar?
ReplyDeleteEu não.
abraço
Jamais poderia imaginar que os italianos fizessem esse tipo de coisa, rsrsrs. Vou fazer a mesma coisa, rsrsrs. Beijocas
ReplyDeleteAcho que eu seria bem feliz na Itália. :)
ReplyDeleteNão sabia que aí repassavam presentes. Conheço muita gente que faz isso por aqui, hehehe.
Bom fim de semana.
Beijos.
O pior é que me vi em algumas dessas situações e se enquadrar no time do italiano médio é mesmo de doer. Mas fazer o que? Ah, mande um abraço ao Márcio.
ReplyDeleteE não é difícil nos enquadrarmos neste retrato. Vou mais longe, ninguém que conheço corresponde ao retrato do brasileiro médio, seja o cordial ou o "leva vantagem" ou o "toda festa". E todo mundo tem um pouco. Mas não repasso presente, juro.
ReplyDeleteAh, minha sogra é campeã em repassar presentes!
ReplyDeleteAdorei, como sempre, a análise do comportamento do italiano médio. Se algum deles lê o seu blog, deve estar te odiando, rs.
Hahaha, esse seu post me fez lembrar de um episódio hilário no Natal de 2004... Mas é melhor eu não contar, mesmo assim o "repassar presentes" está amrtelando na minha cabeça agora, hahahaha.
ReplyDeleteEsse negócio de repassar presentes é coisa pra italiano mesmo, o brasileiro prefere comprar coisa nova, para ficar no vermelho. Parece que é esporte nacional.
ReplyDeleteAbraço.
Não sou italiana, mas também reciclo os presentes que não gosto. Mas não espero até o natal, dou pra primeira pessoa que achar que convém!! (rs*)
ReplyDeleteDesagradável o negócio da etiqueta de preço. Aqui tiramos!!
Bom fim de semana!! Beijus
Como você escreve bem! O conto curtinho no final está uma perfeição.
ReplyDelete:)))
ReplyDeleteachei que reciclar presentes fosse mania de brasileiro!!!!
e sobre o modo cortês...
deve ser por isso que os italianos fazem tanto sucesso com as mulheres!!!! :)))
beijosss