Caros e Caras, Paz e saúde!
Em 1996, voltando para casa, atropelei um cavalo às onze e meia da noite num trecho sem iluminação da Estrada do Coco. Até a Praia do Forte se chama Estrada do Coco, a partir dali, Linha Verde. Estava a uns trezentos metros da entrada do condomínio quando me espatifei num poste, em uma rua de terra do outro lado da estrada, depois de ter amortecido o cavalo que rolava por cima do carro com o pára-brisa, o braço direito e o rosto. A fratura craniana explica muita coisa. Ou, pelo menos, é o pretexto que uso. Por puro reflexo devo ter tentado frear, pois foi o fato de manter o pé esticado que o esmigalhou em cento e trinta e oito fraturas, do tornozelo para baixo. Um mês hospitalizado e três meses de cama, em casa.
Poderia ter sido pior, muito pior. Para mim, pro cavalo e para o carro, não. O motor do Fiat Uno da empresa saiu pelo porta-malas. Quem me conhecia antes do acidente diz que melhorei muito. A tal fratura…
Aproveitei as férias forçadas para me aproximar da Luiza, minha caçula, que era arredia como ela só. O mundo dela era a mãe e a irmã. Às vezes, a babá. Eu saía de casa cedo e voltava tarde. Viajava, ia a inaugurações ou festas patrocinadas pela empresa, vivia enfiado em reuniões ou urgências que varavam a madrugada e via-as pouco. Sábado à tarde e domingo. Mas aí era ela quem não queria saber de mim. Tudo mudou com o acidente. Passávamos a tarde toda assistindo desenho no meu quarto, montando quebra-cabeças na sala ou cuidando da horta juntos: Bianca, Luiza, eu e as muletas. Foi amor a segunda vista.
Foi nessa época que descobri a tecla “Alt” do computador, nas muitas horas livres que tinha (tenho uma insônia fiel). Cheguei a fazer uma tabela enorme com todos os caracteres possíveis com esse recurso. Lembrei dela hoje, após receber um e-mail de um amigo que me escrevia de um net-café com um teclado sem acentos. Claro que é possível entender um “eh” como um é, ou um “soh” como um só, mas é cansativo. Meu teclado não tem os acentos do português e eu precisaria configurar na versão brasileira, mas estou tão acostumado a usar a tecla “Alt” que nem me dou conta. Fui checar e descobri que ainda tenho a tabela reduzida que havia deixado na minha carteira. Funciona assim: mantenha a tecla “Alt” apertada e digite um número. Por exemplo, ALT 130. O resultado é a letra é, acentuada.
Se você viaja ou mora fora do país e também não gosta de escrever sem acentos, experimente usar essa tabela. Não coloquei todos os recursos, apenas os essenciais, mas você pode ampliá-la, descobrindo todas as possibilidades.
Sei que há quem irá perguntar se não poderia ter utilizado o tempo em coisa mais útil, mas garanto que li todos os livros do mundo naquele período. Também plantei alho em toda a volta do terreno da casa para evitar cobras, ouvi todos os shows que as rádios transmitiam pelas madrugadas, decorei aquela do Led Zeppelin que não sabia e produzi máscaras africanas com papel machê. E muitos anos depois, morando na Itália descobri como aquela tabelinha pode ser útil. Você acha que estou pirando? Bom, é que tive uma fratura… Já contei de um acidente que tive em agosto de 96? Eram onze e meia da noite…
Ciao.
Puxa, que coincidência: já atropelei (ou fui atropelado) por um cavalo, só que numa avenida aqui de Porto Alegre!! Também era noite e voltava das compras em um grande super mercado daqui. Por sorte o cavalo estava de lado quando bati (era um Opala, o carro) e, assim, ele bateu com a barriga no pára-brisa e rolou para cima do teto, amassando tudo. Minhas filhas estavam no banco de trás e, por sorte também, estavam sem o cinto de segurança, o que as fez cairem no chão atrás dos bancos. Isso evitou que os estilhaços as atingissem, coisa que minha mulher não pode evitar. O que a salvou de ficar cega foi estar de óculos, mas ficou com o rosto cheio de vidros. Comigo não aconteceu nada. Ainda bem. TEnho uma tabelinha ALT guardada no meu computador, hehehe é extremamente útil. abração
ReplyDeleteuma perguntinha que não posso calar: e o cavalo?
ReplyDeleteOutra coincidência: nunca atropelei nenhum cavalo, mas às vezes me sinto um herbívoro quadrúpede às onze e meia da noite no asfalto. Não, não é essa a coincidência, mas sim a de que eu precisava, por alguma razão, ler um texto que falasse sobre mudança de rumo (forçada ou não, mas sempre boa), pra eu agregá-lo ao meu dia. Por isso, o agradecimento. Não sei se o blogger vai dizer, mas sou o ex-madureira. Abratz e bom fim de semana!
ReplyDeleteÓtima dica do Alt. Na casa da minha filha, uso soh sem acentuacao. Ótimo dica tb a do alho em volta do terreno. Não sabia.
ReplyDeleteEssa história de cavalo em rodovia...você teve sorte, apesar de tudo.
Conheço uma pessoa que sofre há cerca de dez anos, com seqüelas graves, exatamente por este tipo de acidente.
Tenha um ótimo domingo.
Escrever sem acentuar é terrível. Eu sou chata pra caramba com essas coisas de texto.
ReplyDeleteTenho uma teoria de que a lataria da Fiat não vale nada. O seu acidente só vem acrescentar mais um dado à minha estatística.
Detalhe: sou proprietária de um Fiat Uno e só rezando pra não me acontecer nada de grave. A proteção ali é divina. E olhe lá.
Bom Allan, se tivesse acontecido aqui no sul da Italia você com certeza a guerra seria pra quem iria ficar com os restos do cavalo, jà que aqui o que mais tem è açougue de carne de cavalo. No começo eu tinha dó mas depois você aprende que a carne é ótima. Já comeu churrasco di striscette di cavallino? É beeeeem legal! PS.: Valeu pela tabelinha, deu pra notar que já estou usando?
ReplyDeleteCaro Allan
ReplyDeleteSe vc tivesse postado esta tabelinha de ouro em 2003, quando fiz uma tradução de Contrato Comercial em italiano para o português, aí no norte da bota, certamente eu não teria ficado exatas 10 horas para fazer o dito cujo!!!!
Valeu, e muito!!! Vou colocar mais esta carta sua no meu site.
Saluti
Maria Cecilia Manna
Caramba! a gente sabe - dizem pra gente - que muitas vezes Deus escreve certo por linhas tortas. Bendito cavalo, hein? Além das mil e uma utilidades da tecla Alt, o convívio com as filhotas... Bom, tudo isso é lugar-comum. O que eu quero dizer, mesmo, é que seu texto está saboroso e confirma que às vezes uma boa chacoalhada no cérebro pode resultar em coisa boa... hehehe
ReplyDeleteEu quis ficar, durante todo ano passado, doente por uma semaninha. Não deu certo, só fui pegar uma dor de garganta com febre de 39º (ALT + 167 = º) na primeira semana de minhas férias quando eu estava numa pousada na praia mais bonita da cidade, foram cinco dias de cama sem aproveitar nada da praia :(
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