Tuesday, February 28, 2006

Operário

Caros e Caras,

Paz e saúde!

Naquele dia Omar chegara cinco minutos atrasado e foi logo desculpando-se:

– …O despertador não tocou.

O chefe olhou-o sem nada dizer. Segunda-feira é um dia de muito trabalho e não podia permitir-se de perder mais tempo dando uma bronca no funcionário. O faria pagar durante o dia.

Pouco antes do almoço, após inúmeros “pare um minuto e faça isso aqui”, Omar alertou o chefe que não conseguiria terminar a tarefa antes do meio-dia, caso parasse naquele momento.

Problema seu! Você bate o cartão e continua trabalhando até terminar.

Não. Eu trabalho até o meio-dia, bato o cartão e vou almoçar. Farei o possível, mas se não conseguir terminar eu paro assim mesmo.

Aqui sou eu quem comanda – berrava o chefe – e você faz o que eu mando. Se o trabalho está atrasado a culpa é sua, que chegou tarde, imbecil!

Omar enfiou a mão no bolso e tirou uma fotocópia do contrato de trabalho. Passou os olhos pelo papel e falou calmamente:

– No meu contrato de trabalho não está escrito que eu sou pago para aturar mal educação ou gritos de ninguém. Quando alguém grita ou me agride de qualquer modo, a relação profissional cede lugar a uma relação pessoal. Eu não sou seu irmão e o respeito é uma rua de mão dupla.

Eu sou o chefe. Você não passa de um operário e deve fazer o que eu mando sem discutir. – Gritava cada vez mais altoVocê trabalha até terminar o serviço!

Isso mesmo, eu sou operário, não escravo. – Respondeu Omar, sempre com educaçãoeu saio ao meio-dia.

Aqui o estrangeiro é você. É você quem tem que se adaptar. Se não gosta, pode voltar para o seu país e fazer suas regras ! – Rebateu aos gritos.

Omar perdeu a calma, aproximou-se e berrou muito mais alto ao espantado chefe:

Pois daqui por diante é você quem decide como será a nossa relação e eu vou procurar me adaptar. Se você me tratar com o mesmo respeito com que eu sempre tratei todo mundo aqui dentro, eu retribuo. Caso eu me sinta agredido de qualquer forma, reajo como julgar à altura. E o contrato de trabalho vai ser respeitado, você goste ou não, velho imbecil!

A campainha anunciando o meio-dia soou. Omar virou as costas, bateu o cartão e saiu. O chefe ficou , calado e consciente de que todos apoiavam a ação de Omar. Ficou para terminar o trabalho.

Ciao.


Post Scriptum (3.março.2006)

A cena relamente aconteceu há alguns anos. Omar continua trabalhando na mesma empresa. O chefe, não.

14 comments:

Anonymous said...

Quem dera os Omar da vida não precisassem chegar às vias de fato... No caso relatado temo ainda por seu emprego. Será que, ao voltar do almoço, ele ainda seria um assalariado?
Curiosamente o post da Yvonne, cloega lá do Nós por Nós, também fala de empregados que se rebelam.

Anonymous said...

Quem dera os Omar da vida não precisassem chegar às vias de fato... No caso relatado temo ainda por seu emprego. Será que, ao voltar do almoço, ele ainda seria um assalariado?
Curiosamente o post da Yvonne, lá do Nós por Nós, também fala de empregados que se rebelam.

Anonymous said...

Ah, finalmente essa porcaria de Carnaval (odeio com todas as minhas forças!) acabou. Para comemorar, vim aqui avisar que o Alma em Punho está online de novo. Beijo grande!!!

Anonymous said...

Já passei por situação similar. Esse é um problema muito comum nas organizações: pessoas que pensam que, por serem chefes, podem sair berrando e maltratando todo mundo, esquecendo que existe uma relação profissinal. E muitas vezes nem adianta mostrar o contrato. abração

Anonymous said...

Hahahaha! Amei! É assim que a gente deve tratar gente idiota e mal educada que pensa que tem o rei na barriga... História real? Nao duvido nada. Se algum dia isso acontecer comigo acredito que reagirei da mesma maneira...

Anonymous said...

Nunca berraram comigo, mas já tive de trabalhar 28 horas consecutivas pra cumprir prazos que o chefe deu para o cliente. Em compensação passei mais de um mês fazendo apenas 2/3 da minha carga horária diária. É preciso respeito na relação entre chefe e funcionário... só gostaria mesmo é de ter a coragem do Omar pra sair gritando com o superior...

Anonymous said...

Que ótima história e inspiradora. Quase todo mundo já teve que lidar com situações como essa, e não é fácil.
Ainda mais sendo estrangeiro. Vale a pena enfrentar, no entanto, desde que se esteja disposto a pagar o preço de um eventual desemprego.

Anonymous said...

O Omar nunca trabalhou em redação de jornal. Ia escutar coisa muito pior do chefe. :-(

Anonymous said...

Interessante, Allan. Trágico mesmo é quando o 'chefe' e o 'patrão' atendem pelo mesmo nome.

Um abraço.

Claudio Costa said...

As relações de trabalho muitas vezes se confundem com relações pessoais. Pode ser bom, pode ser péssimo: depende de quem são as pessoas e do nível de respeito. Sei que algumas empresas estão mudando os critérios de funcionamento: preferem atribuir tarefas e cobrar resultados a medirem eficiência unicamente pelo cartão de ponto no horário. Mas, bom mesmo, é respeito... de mão dupla!!!

Anonymous said...

Muito bem contada, Allan.
Já tive um chefe com segundo grau que me pedia trabalhos às 17:50 quando sabia que eu saia correndo às 18:00 para um pós gradução. Ele odiava que eu estudasse!

Anonymous said...

Eu tinha uma "chefinha" assim!!!!! aaagggghhhhhhhhhh

Anonymous said...

tem muito Omar precisando passar por aqui...

Anonymous said...

Eu fico sempre me perguntando: por quê é que se berra tanto na Itália? Aqui a regra é responder no grito, principalmente quando quem pergunta é "extra-comunitário". Já percebi que o jeito é já sair falando a meio caminho em direção à estupidez. Desse jeito o interlocutor não vê o outro como tão fraco. Triste não?